domingo, 6 de setembro de 2015

Conheçam Luiza Coppieters: Professora, mulher lésbica e transexual, com muito orgulho

Luiza Coppieters, mulher lésbica e transexual. Depois de assumir sua transexualidade com o apoio de seus alunos, foi demitida, vítima da transfobia que imperava na institiuição de ensino. Hoje é militante ativa e um ícone na luta contra a transfobia nas instituições de ensino e no mercado de trabalho formal.

De uns tempos para cá, algumas pessoas devem ter tomado conhecimento da história de uma professora que teve a coragem de assumir sua transexualidade, se libertando assim das amarras que a prendiam e privavam da felicidade. Vítima de transfobia, ainda existente nas instituições de ensino, acabou sendo demitida após ela (antes ele), resolver assumir sua real identidade. Seu nome é Luiza Coppieters. Mulher lésbica e transexual! Mulher de fibra e coragem que hoje ostenta com orgulho seu verdadeiro eu.

Professora por profissão, Luiza sempre foi dedicada ao seu trabalho e seus alunos. Só que ela não foi Luiza a vida inteira. Nasceu como Luiz e era professor de filosofia. Seus alunos a amavam muito, mas embora Luiza tivesse consciência de sua verdadeira identidade de gênero, se via obrigada a vestir-se como homem, por medo da rejeição da sociedade e principalmente de seus amados alunos. Não era de se estranhar que ela não se sentisse bem, encarnando um papel que não era real.

Hoje, feliz com sua identidade de gênero reconhecida e plenamente realizada como mulher, Luiza inspira pessoas que ficaram conhecendo a sua história.


Certo dia, Luiza se abriu para seus alunos, contou sua evidente identidade transexual (ela já era bastante feminina, apesar das roupas), de certa forma apreensiva, pensando que a reação dos pais dos alunos seria negativa, já que da parte deles ela esperava o melhor.  E ficou bastante emocionada ao ouvir as palavras de apoio deles. Ao invés de reprová-la, os alunos a encorajaram a dar as aulas como Luiza, mulher, da forma como ela se sente bem. Foi um grande alívio para ela, que acabou por livrar-se de um enorme fardo.

HQ lançada recentemente, conta a história de Luiza Coppieters e os dilemas que ela enfrentou até assumir abertamente sua transexualidade. Seus ex-alunos a apoiaram até o fim.

No entanto, não era apenas essa a sua preocupação. Acontece que infelizmente, para a população "T", é extremamente difícil se encaixar no mercado formal. O medo de perder o seu emprego e ter que eventualmente viver da prostituição, sempre a assombrou. Infelizmente, embora seus alunos a tenham aceitado naturalmente, muitas pessoas se sentiam incomodadas em ter em sala de aula, uma mulher transexual, como professora, o que culminou em sua demissão.

Embora ainda esteja desempregada devido a uma demissão claramente motivada por transfobia, Luiza Coppieters, não caiu na prostituição, o que seria caminho comum para a maioria absoluta das mulheres trans (travestis e transexuais) no Brasil.  E também nem conseguiria, já que sua orientação sexual, lésbica, e seus princípios não permitem que ela se relacione com homens, mesmo que por sobrevivência. Atualmente, ela faz palestras, além de ajudas de pessoas que a apoiam. Saudosa de seus tempos em salas de aula, pretende voltar a lecionar em um futuro próximo.

Infelizmente, essa é a dura realidade no Brasil. A população LGBT, principalmente o segmento "T", é duramente perseguida e discriminada em todos os ambientes. O mercado de trabalho encontra-se quase completamente fechado para essa parcela da população. A prostituição acaba por ser a única opção para a maioria das transsexuais e travestis. Não importa o nível de instrução, se tem nível superior, mestrado e/ou doutorado. Se não tiver uma sorte sobre-humana - pois aptidão e escolaridade não contam - é praticamente impossível conseguir se inserir no mercado de trabalho formal.

Outro fato alarmante é a alta taxa de evasão escolar por muitas destas pessoas, que por não suportarem mais passarem por tantos preconceitos, acabam abandonando as instituições de ensino. Nem todas conseguem concluir o ensino fundamental, muito menos o ensino médio e acabam se formando na "escola da vida", que nem sempre nos ensina coisas boas. 

Enquanto não forem criadas políticas públicas para a população "T", principalmente que assegurem o direito a se qualificarem para o mercado de trabalho de forma digna e igualitária, enquanto nas escolas também não forem adotadas condutas e ensinos inclusivos, que tratem de forma natural temas como orientação sexual e identidade de gênero e ensinarem a respeitar e conviver com as diferenças, nunca veremos esse quadro se reverter.

Nós, "Luizas", "Samaras" e "Vivianys" da vida, dentre muitas outras, apenas procuramos aceitação, respeito e reconhecimento da sociedade, pois todo ser humano tem direitos primordiais que deveriam ser garantidos e respeitados. Se infelizmente, embora sejamos teoricamente amparadas pela Constituição Federal de 1988 (CF/88), não temos nossos direitos garantidos e postos em prática, só nos resta lutar pela implementação de tais direitos através de PLs (Projetos de Lei), através da militância que ganha cada vez mais força, para que possamos assim abrir os olhos da sociedade para a nossa existência e para o nosso apelo pelo fim da crucificação do nosso segmento.

Luiza Coppieters pode ter perdido seu emprego como professora, mas ganhou muito mais. Ganhou a admiração de seus alunos e pessoas próximas, ganhou uma liberdade nunca antes experimentada e também é hoje inspiração para a população trans (transexuais e travesitis), mostrando que temos que nos orgulhar de quem somos e não ter medo de lutar por nosos direitos.

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